“Passado, Presente e Futuro”: a trajetória dos sonhos de futuros profissionais da Segurança Pública

13 de dezembro de 2024 - 12:47 # # # # #

 

Edmundo Clarindo – Texto
Leandro Freire – Foto

O pouco tempo de estudo não permitiu a ele aprender o significado da palavra desistir. Na infância, o sonho era fazer parte da Polícia Militar do Ceará. Na adolescência, porém, a realidade foi de abandono da vida escolar. Vieram a fase adulta e os trabalhos dos mais diversos que o afastavam da Gloriosa.

Mas houve um dia em que Thiago Santos resolveu mudar.E, em apenas cinco anos, ele parou de marcar a opção “Ensino Fundamental incompleto” nas fichas que preenchia e chegou a esta Academia para fazer o Curso de Formação de Soldados.

A trajetória de persistência e superação desse recruta é tema desta edição do conteúdo especial Passado, Presente e Futuro.

O futuro parou na 8ª Série

O menino que sonhava ser policial militar nasceu em uma família humilde, filho de pais sem instrução escolar, e aprendeu da forma mais dolorosa o valor dos estudos.”Eu acreditava apenas na força do trabalho, na força bruta. Quando eu falei que pararia de estudar, em casa, não houve nenhum entrave. Eles não acreditavam no estudo”, relembra.

À época na 8ª Série, equivalente ao atual 9º Ano do Ensino Fundamental, Thiago trocou a escola pelo mercado de trabalho. “E eu dei resultado financeiro, era o que eu acreditava”, complementa.Foi ajudante e garçom, feirante, conseguiu independência financeira. Mas a realização pessoal estava longe, bem longe. O bolso estava cheio. A alma, vazia. “Eu me senti muito velho, vim para quebrar esse paradigma. Retornei aos estudos aos 25 anos”, narra.

De que adiantaria ter dinheiro suficiente para viver dignamente sem que pudesse se sentir bem com essa condição? Esse foi o pensamento que encerrou um passado de incertezas para iniciar um presente com inclinação para o futuro.”Quando eu cheguei 25 anos eu parei e analisei: não tinha uma profissão. Tinha uma vida financeira, mas não tinha profissão. Fazia apenas serviços braçais. Precisava ter uma profissão que eu escolhi”, ilustra. E foi aí que ressurgiu o sonho de ser policial militar.

Um presente que passou pela educação

O ajudante que se tornou garçom e que também se fez profissional nas feiras livres teve que voltar ao zero. Foi no Sistema Educacional de Jovens e Adultos que, em um ano, os estudos foram concluídos. Tempo suficiente para que nascesse o amor pelo saber e pelo aprender. “Tive que fazer mais de 100 provas após dez anos parado e sem estudar. Mas eu estava apaixonado, eu me apaixonei pela educação. Queria estar lá (aula) todo dia. Queria, estava com sede (de estudar)”, sublinha.

Não demorou muito para que o jovem sem Ensino Fundamental concluísse – com êxito – a vida escolar. Bastou um ano para que viesse o diploma do Ensino Médio. E, com esse certificado, a chave que abria as portas para a Polícia Militar. “Quando eu peguei aquele diploma, aos 26 anos, estava realizado. Eu poderia ser o que quisesse. E eu desenterrei o sonho de ser PM. Escolhi o melhor curso de Fortaleza, cortei o cabelo baixinho. Era inegociável, eu queria aquilo”, exclama.

Mas não eram tempos fáceis. O concurso de 2021 mostrou que ele tinha o caminho, ainda faltava um detalhe: o teste de aptidão física. Acometido pela covid-19, ele acabou ficando para trás. Mas, no ano seguinte, um novo certame fora lançado. E, prestes a estourar a idade-limite, Thiago Santos viu seu nome entre os convocados para o CFSD nesta Academia. “Deus abençoou, houve outro concurso. Sou o mais velho da minha turma”, comemora.

Ele teve um futuro porque não desistiu no passado

Thiago parou de estudar aos 15 anos, mas retornou aos 25 anos à vida escolar. Um ano depois, com 26 anos, concluiu os estudos. Aos 28 anos tentou concurso. E, aos 30 anos, é aluno-soldado rumo à conclusão do curso.”Se não conseguisse ia tentar oficialato ou Polícia Rodoviária Federal. Quero sempre me capacitar, estudar, porque as portas se abrem. Se você se qualificar, as portas estarão abertas em vários cantos”, ensina.

Antes, na infância, o sonho era ser policial militar. Agora, o sonho é iluminado como uma luz que parte do céu. “Eu sonho com o Raio”, especifica. Aqui, nesta Academia, ele tem feito o que ama: estudar, aprender, desenvolver a si próprio e crescer como ser humano. “São profissionais incríveis. Aqui, o que mais gostei é ter várias forças (de segurança) ao mesmo tempo”, resume.