“Passado, Presente e Futuro”: a trajetória dos sonhos de futuros profissionais da Segurança Pública
2 de agosto de 2024 - 17:29
Edmundo Clarindo – Texto
Leandro Freire/Cristiano da Silva – Fotos
Foi no meio do sertão de Pernambuco que ele veio ao mundo. Perto da divisa com o Ceará, na terra natal do rei Luiz Gonzaga, Exu se tornou o berço do menino que cresceu com os dois irmãos e que precisou se fazer homem da casa antes de cruzar a linha da juventude.
Antônio Romilson Tavares dos Santos, o recruta Tavares, do 4º Pelotão do Curso de Formação de Soldados, hoje se vê na Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp/CE) cumprindo o sonho de entrar para a vida militar.
Nesta edição do Passado, Presente e Futuro, abrindo o chamado Mês dos Pais, esta Academia apresenta a trajetória de um aluno-soldado que, entre o pai e o avô, fez-se cidadão diante de adversidades e obstáculos por toda a vida. Uma biografia de inspiração e superação.
Não é somente pela genialidade do Rei do Baião que o município pernambucano de Exu se tornou conhecido no sertão do Nordeste e no restante do Brasil. Antes do nascimento do recruta Tavares, ainda no século passado, a cidade ficou famosa por décadas de enfrentamento armado entre dois grupos familiares – os Alencar e os Sampaio – pelo poder local. A literatura e testemunhas desse conflito chegam a falar em até 48 mortos, de ambos os lados, entre vinganças e emboscadas.
Passado
Tavares, por sua vez, não veio ao mundo vocacionado para a música ou para a política. Primeiro, foi sob duas rodas que ele ganhou a vida. Aos 18 anos, entre idas e vindas, cruzou Exu levando e trazendo passageiros. Mototaxista, ele iniciou assim o caminho para uma vida melhor.
E houve um dia em que o Brasil pareceu ter virado ao contrário no mapa de sonhos do pernambucano. Foi em Santa Catarina, entre o Paraná e o Rio Grande do Sul, a parada seguinte na estrada que levava o futuro recruta à frente. Por sete anos ele trabalhou em diferentes áreas. Entre uma venda e uma entrega ele comprou a ideia de buscar um rumo melhor. E foi por meio de material emprestado que o jovem passou a estudar para concursos públicos.
Ora errava, ora acertava, o concurseiro ia ganhando experiência no domínio das apostilas. Motorista e vendedor de cestas básicas, ele acelerou e sentiu fome de vitória.
Vez ou outra, até o Rei do Baião tropeçava entre um acorde ou outro. Do mesmo modo, seu conterrâneo menos famoso também fracassou em algumas provas. Até que, em solo cearense, ele se viu capaz de abraçar o mundo ao ser aprovado no concurso da Polícia Militar do Estado do Ceará!
Até mesmo nessa hora, a despeito da vitória, Tavares teve que lidar com reações negativas. Pouco importava, não era nada diante da felicidade e da alegria de uma mulher que sempre confiou no filho. “Contar para minha mãe foi incrível, ela sempre me apoiou e acreditou em mim. Enfrentei algumas críticas e descrenças de amigos e pessoas próximas, mas segui firme no meu objetivo”, relembra.
Presente
Nesta Academia, o aluno-soldado passou a conviver com colegas de outras forças de segurança. E até já sonha com a lotação na PMCE. “Um sonho futuro que tenho é de ir para Juazeiro ou Crateús, pois ficam próximas à minha cidade. Gostaria de ser lotado lá, é uma cidade muito boa. A ideia é ficar mais próximo da família, pois não passei muito tempo fora”, indica.
“Todos nós tivemos que nos adaptar aos novos desafios e rotinas, mas a convivência com os colegas da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros tem sido enriquecedora. A integração entre os diversos órgãos é fundamental para o bom funcionamento da segurança pública. É importante compreender que, apesar das diferenças, todos temos um objetivo em comum: servir à sociedade”, reflete.
E a PM tem significado – para ele e para a família – uma nova vida. Nada se compara com as dificuldades do menino de 13 anos que, ao perder o avô que representava sua figura paterna, sentiu o peso da responsabilidade de uma família. “Agora, com o trabalho na Polícia Militar, minha família está bem, e isso me traz grande satisfação. A estabilidade financeira traz uma segurança que antes eu não tinha, e isso reflete diretamente na minha qualidade de vida e no sono tranquilo que passo a ter”, enaltece.
Futuro
Uma vez formado e lotado, o aluno-soldado pretende seguir escrevendo história. “No momento, estou cursando Tecnólogo em Segurança Pública, para poder fazer o concurso para a Polícia Civil. Possivelmente, vou tentar a Polícia Civil. Tenho interesse em continuar seguindo carreira na área policial, seja na Polícia Civil, Polícia Federal ou mesmo se surgir a oportunidade de um Curso de Formação de Oficiais. Meu objetivo é permanecer na área policial, pois já me sinto realizado aqui”, prevê.
“Dentro das especialidades da PM, admiro muito o Choque. Quem sabe, no futuro, se estiver fisicamente e mentalmente pronto, tentarei ingressar no Choque”, complementa.