“Passado, Presente, Futuro”: a trajetória dos sonhos de futuros profissionais da Segurança Pública

19 de abril de 2024 - 09:58 # # # # #

Edmundo Clarindo / Elis França  – Texto
Cristiano da Silva – Fotos

 

O 15º episódio conta a história da futura auxiliar de perícia Adma Carla Herculano Lopes

A Academia Estadual de Segurança Publica, (Aesp/CE) apresenta o Passado, Presente e Futuro da Adma, aluna do Curso de Formação de Auxiliar de Perícia. Integrante do Grupo 1, Adma é o símbolo de mulher nordestina resiliente e forte do município de Icó, no interior do Ceará. Traçou um caminho desde a cidade natal até Fortaleza, onde o destino lhe reserva grandes desafios e vitórias.

PASSADO

Imagina estar com uma vida estável, aos 30 anos, com casamento, filhos, emprego, mas decidir iniciar uma nova etapa da vida em outra cidade, deixar pra trás o trabalho e a cidade natal em busca do sonho de fazer parte de uma das forças da segurança pública?

Um passo firme impulsionado por fé e coragem

Foi isso que Adma decidiu aos 30 anos. Saiu da cidade de Icó, região Centro-Sul do Ceará, com o esposo e dois filhos – um quatro anos, outro de seis meses. Uma escolha que decidiria o seu futuro e de toda família, mas também  um passo de fé e coragem que desencadearia uma série de eventos que testariam a sua força interior.

“Bem, eu tinha 32 anos, a iniciativa privada não nos traz estabilidade financeira. Nós juntamos uma certa quantia em dinheiro para nos manter durante um período. Saímos do interior. Nós trabalhávamos no interior e viemos sem nada, nós deixamos todos os nossos móveis, deixamos tudo para trás, viemos realmente assim, como se diz popularmente, como a mão na frente e outra, atrás. Foi um passo de coragem, um passo de fé, a gente chama de um passo de fé, porque nós não havíamos estudado ainda para concurso nenhum, nós deixamos um emprego, tínhamos dois filhos. A partir daí, fui para outra cidade, morar com os pais”, relembrou Adma.

O desafio de regressar à casa dos pais aos 30 anos com toda a família

O primeiro ano morando na casa dos pais, foi o início de muitas lutas, relembrou em lágrimas a futura auxiliar de pericia. “Depois de um ano de muita dificuldade, porque não estávamos trabalhando, ficamos à mercê de ajuda dos irmãos, pais, avós, dos meus filhos; foi um ano muito difícil, porque, às vezes, nos queríamos [emocionada] – como toda pessoa – se divertir, comer pizza, comprar brinquedos para os filhos. E não tínhamos condições. Mas a gente pedia a Deus que nos desse fortalecimento, além da sabedoria para continuar estudando e terminar essa fase e ter o êxito no final, e assim nós tivéssemos”, recorda Adma.

A reprovação do primeiro concurso e a dor da separações e a busca para seguir em frente

O caminho da Adma estava sendo estreitado. Ela realizou o seu primeiro concurso: da Policia Rodoviária Federal. Mas não foi aprovada em todas as fases. Ao mesmo tempo, Adma teve que encarar separações dolorosas, fim do casamento e a pior perda de todas: o falecimento de sua mãe. Um golpe emocional que poderia ter abalado os alicerces de qualquer pessoa, mas ela continuava firme, estudando todos os dias com uma fé que sustentava.

“Eu fiquei sem chão, porque quando você tem aquela pessoa ali como algo que lhe dá apoio, que é uma base e você perde, você fica realmente assim desnorteado. E naquele momento ali era o que eu mais pedia a Deus, era que ele me fortalecesse para que eu continuasse na jornada a qual eu já tinha o objetivo desde o começo, que mesmo não sendo aprovada no restante das fases da PRF, mas que eu continuasse estudando, mesmo com a dificuldade de ter que criar os meus filhos, ter que voltar para dentro de casa e abdicar disso momentaneamente. Mas, assim, graças a Deus que ele sempre me deu uma mente sã. Ele sempre me sustentou, e eu pude atravessar, passar por todas essas fases bem, sem precisar que eu entrasse em depressão ou me desanimasse em relação a estudar.”

Combater o machismo para dar vida a um sonho

Enquanto as adversidades surgiam, Adma seguia firme olhando para o futuro que era fazer parte da segurança pública do Estado do Ceará. Realizou o segundo concurso, da AMC, foi aprovada, mas não imaginava que iria enfrentar o peso do machismo, em uma sociedade que ainda se debate com questões de igualdade de gênero em meio a um momento delicado emocionalmente.

“Eu ouvia que mulher não poderia trabalhar com homem. Não poderia trabalhar no local onde tinham mais presença masculina do que feminina, e nem também poderia estar trabalhando na rua, não pelo fato de ser perigoso, pelo fato de ser profissão masculina”, conta. “A culpa não foi só em relação ao comentário, porque isso foi um comentário que eu recebi, eu assimilei aquilo dali com algo negativo e pelo estado que já estava”, complementa.

Persistência e determinação incansável

Mas obstáculos existem para serem ultrapassados e vencidos. E foi com esse pensamento otimista que Adma não se deixou abater. Com determinação incansável e desejo no coração de fazer parte da segurança pública do Estado do Ceará, partiu para o terceiro concurso, da Policia Civil do Ceará.

“Depois a vontade reacendeu, e eu continuei estudando. Foi quando eu passei na Polícia Civil, para escrivã. Quando eu passei na Polícia Civil, que foi o concurso antecedendo esse último, que foi, se eu não me engano, em 2012. Tinha as fases em que você tinha que passar por elas, porque se não você não fazia o curso de formação. Então, eram fases classificatórias e eliminatórias, como médico, como físico, aí tinha a digitação. E aí, à época, eu ainda estava também com os meninos ainda pequenos. Eu não me preparei, na verdade, com afinco para enfrentar essa etapa. E aí, eu fui dada não apta na digitação. A culpa foi só minha. Dessa vez, assumindo a responsabilidade, foi só minha, por não ter me dedicado, de fato, às fases do concurso. Porque todo concurso não termina só com a prova objetiva. Existe a fase também do curso de formação, porque você precisa continuar estudando. Então, é como eu lhe disse desde o começo. Você estudar para concurso não é uma decisão fácil. Não é. Estudar, ser um estudante para concurso, independente das dificuldades que você enfrenta na sua vida diária. Então concurso leva tempo”.

Desistir não estava nos planos da Adma

Assim como a maioria das mulheres que acumulam funções, com a futura auxiliar de perita não foi diferente: ela se dividia em cuidar dos filhos sozinha, da casa, para ajudar no sustento da casa dos pais, vendia lanches na calçada de casa e estudava cerca de 5 horas por dia.

Então, o que dizer de mais um “não” durante a caminhada? Olhar pra trás e lamentar ou simplesmente parar seria a solução? Bem, pelo que nós já conhecemos da história da Adma, esse tipo de opção não fazia parte da vida dela. Adma realizou o quarto concurso, da Guarda Municipal de Fortaleza,.e foi aprovada em todas as fases.

“Os filhos sentiam minha falta, mas desistir não estava na minha lista, e nem estava no meu objetivo, eu comecei eu vou terminar exatamente como o estudo é, eu comecei, eu vou terminar, quando é que eu termino? Quando eu tenho êxito, quando eu venço no final de tudo todas, as batalhas, as etapas que um concurso tem.”

A realização do maior sonho: Pefoce.

Já são quatro anos de Guarda Municipal de Fortaleza. Adma estudava para concurso da Pefoce, o seu maior sonho. Realizou e passou para auxiliar de perícia.“A Pefoce era o sonho antes da guarda”, reitera.

PRESENTE

Hoje, é aluna do Curso de Formação de Auxiliar de pericia da Aesp, vive a realização do sonho. “O curso de formação aqui da Pericia Forense é um curso de formação intenso, difícil, que é uma nova etapa, aquela que vai preparar você para assumir o cargo lá na Pericia Forense”, afirma.

A Academia está sendo uma segunda casa e tem surpreendido a aluna pelo conteúdo ofertado, além da oportunidade de se formar junta com outros alunos das instituições coirmãs que acrescentam no trabalho conjunto dos futuros policiais.

“Quando as pessoas falam em Aesp, é algo que você sonha em entrar, participar desse mundo aqui, da Aesp. O desejo de você participar desse contexto é um sonho. Eu sempre quis estar aqui dentro da Aesp, tanto que eu não sabia que nos iríamos fazer o curso de formação na Aesp; quando eu soube, eu fiquei maravilhada. Eu me senti em casa. Nós somos muito bem tratados aqui na Aesp. Nós somos civis? Somos? Mas o que rege hoje na aesp é o que todos deveriam experimentar a questão da disciplina e organização de fazer parte de um corpo como um todo”, sublinhou.

FUTURO

Com pé no chão, firmeza e cheia de expectativas, a futura servidora da Pericia Forense fala em se especializar dentro do núcleo no qual irá trabalhar na Pefoce, pensando no bem-estar da sociedade, exercer a função com excelência.

“Eu estou cheia de expectativa, eu quero conhecer primeiro o órgão por dentro, o sistema como é regido, pretendo me especializar para dentro do meu órgão, eu posso ser uma pessoa que sempre vai estar somando, colaborando e pensando no bem-estar da sociedade. O que a Pefoce faz é muito importante para ter uma segurança melhor. É preciso estudar e se especializar para que eu lhe dê um retorno  como sociedade, eu preciso ser uma pessoa ímpar no conhecimento”, descreve.

Não desista independente dos obstáculos

“Independentemente das dificuldades que você tenha, dos obstáculos aos quais você se deparar ao decorrer da sua vida, você não desista dos seus objetivos; às vezes, você realmente se sente triste com a sua situação e, mesmo se sentindo triste, você tem que superar, é uma questão de superação; você tem que dizer para você mesmo que você tem que superar tudo aquilo ao qual você está vivendo para que tenho êxito lá na frente”, exclama.