“Passado, Presente, Futuro”: a trajetória dos sonhos de futuros profissionais da Segurança Pública
29 de maio de 2024 - 11:57 #Aesp/CE #formação aesp #Futuro #Passado #PMCE #polícia militar #Presente
Edmundo Clarindo – Texto
Cristiano da Silva – Fotos
A história da aluna-soldado Fonseca, da Polícia Militar do Estado do Ceará, é capaz de fazer qualquer pessoa chorar a ponto de encher de lágrimas do maior açude da Paraíba, na cidade sertaneja de Coremas, a 390 quilômetros da capital João Pessoa. Em fase de formação na Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp/CE), ela conta como foi a trajetória de perder uma irmã prematuramente enquanto se preparava para o concurso e, da perda, tomar a decisão de ter uma iniciativa que faz a diferença na vida de outras pessoas. Ao lado de uma colega de pelotão, a aluna-soldado Vasconcelos, a jovem de 25 anos conta um pouco mais sobre a sua biografia. Essa é o quadro Passado, Presente e Futuro que encerra o mês das mães de 2024, na Aesp/CE, de modo emocionante e humanamente engrandecedor.
Quem tem no Direito uma ferramenta de estudo ou de trabalho conhece a expressão “o especial derroga o geral”. Na família da aluno-soldado Fonseca essa regra também se fez presente, ainda que os pais – um veterinário e uma professora – não tivessem domínio pleno do tema. Não há lei que se sobreponha ao amor. E há laços maiores do que o sangue. De modo especial, a Fonseca passou a ter uma irmã, eliminando toda e qualquer regra sobre o que é uma família de modo tradicional ou moderno.
A exemplo de outras casas do Nordeste, o lar dos Fonseca em Coremas abriu as portas para outra menina. Logo, quando a futura aluna-soldado da PMCE nasceu, o destino já colocara a seu lado uma companheira para a vida. “Ela foi a minha irmã de criação”, apresenta. A pequena sertaneja tem outros dois irmãos, de sangue, mas foi a irmã de coração com quem ela mais se aproximou. “Ela era a melhor pessoa que eu conheci. Igual a ela eu nunca conheci ninguém”, enfatiza.
As frases que conjugam verbos no passado não são por acaso. No ano passado, menos de seis meses após ter o diagnóstico de um câncer, o coração da irmã de criação parou de bater. Era justamente a época em que se aproximava o concurso da PMCE… “Ela que pagou para eu fazer a prova. E a prova foi no dia de cirurgia dela. Lutamos até o fim. Fiquei com ela até o fim”, resgata Fonseca.
Até pouco tempo, em seus primeiros momentos nesta Academia, Fonseca se distinguia das demais alunas pelo cabelo. Poucas vezes ela havia cortado além de pequenas pontas. Tudo por uma boa causa. “À época em que a gente estava no hospital eu fiz essa promessa de sempre fazer doação para o Hospital do Câncer”, justifica. Junto à aluna-soldado Vasconcelos, outro exemplo de luta contra o câncer na família, veio a iniciativa de procurar o Hospital Peter Pan e fazer a doação.
Agora, com cortes extremamente curtos, elas têm a consciência mais leve: ajudarão a autoestima de crianças que enfrentam a queda capilar. “É uma marca, uma dor (perder o cabelo no tratamento). Você fazer o que você pode para ajudar outras pessoas é muito gratificante”, explica Vasconcelos. Pela segunda vez ela faz esse gesto nobre e digno de aplausos.
“Meu cabelo nunca foi tão grande, eu me informei de como seria a doação. Cortei bem curto. No primeiro dia estava todo mundo com o cabelo enorme. E a gente resolveu fazer essa doação juntas”, relembra.
TER CHEGADO ATÉ ESTA ACADEMIA NÃO FOI TÃO FÁCIL PARA FONSECA
Os Sertões, de Euclides da Cunha, contam os últimos dias do arraial do Belo Monte, na Bahia onde milhares de sertanejos buscavam uma alternativa de vida ante a seca e a fome que assolavam o Nordeste entre os séculos XIX e XX. Depois de várias batalhas, a guerra contra forças do Exército assim chegava ao fim: “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo.”.
A personagem desta história jamais cogitou a rendição. Fez concurso também no Rio Grande do Norte e teve aprovação no Ceará. Foi e é uma mulher exemplar, resistente quando o corpo e a mente esgotados a convidavam a abandonar sonhos. Ela, porém, faz parte hoje da Polícia Militar do Estado do Ceará em formação na Aesp.
“A estrutura daqui é bem melhor se comparada a estados. É uma das melhores do Brasil”, orgulha-se.