“Passado, Presente, Futuro”: a trajetória dos sonhos de futuros profissionais da Segurança Pública

26 de abril de 2024 - 09:46 # # # # # # #

Edmundo Clarindo / Elis França  – Texto
Cristiano da Silva – Fotos

 

A Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp/CE) conta o passado, o presente e o futuro de Brígida Luanne da Silva Alves, aluna desta Academia que está fazendo o Curso de Formação de Soldados da Policia Militar do Ceará.

Nossa vida é como se fosse uma folha de papel em branco, onde todos os dias temos a oportunidade de escrever novos capítulos. Claro que gostaríamos de relatar somente fatos bons, alegres e vantajosos, mas que graça teria? É quando estamos fracos que somos fortes, em cada desafio descobrimos potencial e força que nem sabíamos que existiam em nós mesmos. E foi o que aconteceu na vida de Brígida, que você vai conhecer agora.

Entrar para a gloriosa Polícia Militar: não basta só querer, tem que amar a história de uma das maiores instituições de segurança pública do Brasil, honrá-la e carregar dentro de si coragem, força, comprometimento e profissionalismo do início ao fim da carreira militar. Valores que começam aqui, na Aesp.

Passado

Basta pouco tempo de conversa com a Brígida para perceber que vida até os 25 anos não foi nada fácil e estável. Nos primeiros sete anos, a pequena garotinha cheia de sonhos morou em várias regiões do interior cearense com a família. O pai, Francisco Alves dos Santos, trabalhava em uma cooperativa de frutas e viajava muito. Chegaram a morar em São Paulo, voltaram para o Ceará, mas foi na cidade de Teresina, no Piauí, que a família de Brígida se firmou até os dias de hoje. Uma vida muito intensa para uma menina de apenas sete anos de idade, não é verdade? “Eu nasci em Ubajara, Ceará, mas eu ainda criança morei em alguns lugares, porque o meu pai trabalhava viajando, então minha mãe, minha irmã e eu acompanhávamos ele. Eu nasci em Ubajara, mas já morei em são Paulo, Botucatu, depois a gente retornou para o Ceará, morei em Carnaubal, em São Benedito, depois a gente voltou para Piauí.”

Ao chegar ao Piauí, Brígida não teve só mudança geográfica, mas também familiar; seus pais passaram por um período de separação, o laço matrimonial foi quebrado, mas a família jamais rompeu o amor e respeito entre uns com os outros. “Foi um período difícil, foi um período complicado, tanto pela adaptação do local, mudança de cidade, quanto pela separação dos pais. Meu pai foi morar em Parnaíba. Minha mãe, minha irmã e eu continuamos morando em Teresina. Mas, apesar da separação, a família continuou sendo unida. Eu continuei tendo contato com meu pai, ele continuava visitando a gente”, resgata

Apesar de muito nova, Brígida crescia com consciência de ser uma mulher, filha, irmã que daria melhores condições para toda família e que seria base forte na economia do lar, pois assistir à rotina puxada da mãe para sustentar o lar não agradava aos olhos da pequena criança. “Na oitava série foi o primeiro contato com concurso porque foi a prova do Instituto Federal, que eu estudei, tive que fazer a prova, e tive que fazer o ensino médio no Instituto Federal do Piauí. Sempre com o objetivo de mudar de vida através do estudo. Para modificar a realidade da minha família, especialmente da minha mãe e poder dar a ela uma vida que eu sei que ela não teve uma oportunidade”, conta

A partida do pai

“Eu participei de um retiro da igreja em que os familiares  mandavam cartas, e ainda hoje eu guardo uma cartinha dele que ele deixou. Que me deu uma força” Em 2017, aos 18 anos, Brígida recebeu a pior notícia de sua vida: o falecimento do pai. Com muita emoção relembra o momento difícil para toda família. “A gente estava indo para um retiro da igreja no sul do Piauí, era na Semana Santa. Quando a gente chegou lá, minha irmã e eu, a gente só recebeu a notícia de que teria que voltar para Teresina. E era distante, eu acredito que eram 5 horas, 5 a 6 horas de viagem, mas eles não informaram o motivo, falaram que a gente teria que retornar para Teresina, porque nosso pai estava sendo transferido para Teresina, ele já estava um pouco mal, mas ele não falava diretamente para a gente que já estava tão mal assim. Eu falei com ele no telefone. Ele: “Não, eu estou só com a virose”. Quando a gente chegou em Teresina foi a notícia. Foi um período bem difícil”, relembrou.

O tempo foi passando. Brígida crescia decidida a vencer, trabalhou em vários setores da economia cearense: vendas, balconista… E ingressou na Faculdade de Direito, concluiu e passou no exame da OAB, mas a paixão pela área policial não a deixou seguir carreira de advogada. Foi aí que resolveu fazer primeiro concurso, da Polícia Civil no Piauí. “A questão da segurança pública, na faculdade, a gente não tem tanto contato, mas eu acabei tendo um contato com a segurança pública através de algumas matérias, e a polícia acabou me chamando a atenção. Mas, de fato, despertar mesmo pra essa área foi quando saiu o edital da Polícia Militar do Piauí e eu vi naquele edital ali uma oportunidade de ser concursada. Estudei para prova, eu me dediquei para prova por bastante tempo, passei, fiz os exames médicos. Mas, infelizmente, no teste de aptidão física, eu reprovei”, lamenta.

A reprovação foi apenas mais um capítulo de superação na vida de Brígida. E não parou por aí: no mesmo ano, em 2022, surgiu o novo concurso para a PM, mas no Ceará.  “Eu chorava muito. Era como se fosse um sonho indo embora. Eu tinha me dedicado muito àquele concurso, mas não tem o que fazer, né? Quando você reprova no teste físico, você realmente não tem o que fazer. Mas vendo ali a minha mãe, vendo a minha irmã, que na época já estava concursada, eu decidi que não ia parar, que ia continuar. E, em outubro de 2022, no mesmo ano, saiu o edital da Polícia Militar do Ceará, e foi quando eu vi a oportunidade de tentar novamente, como se fosse uma segunda chance”, recorda.

 Nova preparação

Brígida teve que alinhar a rotina de trabalho e estudar cerca de cinco horas por dia, além da preparação física. “Esse período de preparação também não foi fácil porque eu estava conciliando com o fim da faculdade. Eu estudava mais ou menos umas cinco horas por dia.”

A maior inspiração estava dentro de casa: a mãe e a irmã.

Uma força que vinha de duas grandes inspirações: da mãe, Maria Creusa da Silva Alves, e da irmã, Iannara. “Em princípio, é a mudança de vida, ajudar minha família, especialmente a minha mãe, que sempre teve uma vida muito difícil, uma infância difícil. A inspiração veio principalmente da minha irmã, que atualmente é concursada, e eu via que a estabilidade ajudaria. Veio edital, na faculdade já sabia que seria concurso público. Veio o edital da Polícia Militar, vi como oportunidade, passei a pesquisar mais sobre a área, apesar de ter tido um pouco de contato com a segurança pública, com as matérias que cobram, mas vi como oportunidade e passei a me interessar muito”.

A aprovação para PMCE: o chorou de dor virou choro de alegria.

“Eu lembro que eu chorava no meu quarto de alegria. E eu lembrava dos momentos em que eu estava ali chorando de tristeza, dos momentos em que eu chorei ali pela reprovação do teste físico, naquele exato lugar, naquele mesmo lugar.”

Presente

Hoje, Brígida é aluna do Curso de Formação de Soldados da PMCE, na Aesp, academia que hoje se tornou sua primeira casa, nas palavras da própria militar. “Eu senti uma emoção muito grande, caiu a ficha de que aquilo que eu tanto pedi em oração estava acontecendo, estava se realizando. Eu costumo dizer que a Aesp é a nossa primeira casa, porque a gente passa maior parte do tempo aqui. Tem sido uma experiência muito boa, posso resumir como sendo minha primeira casa”, sublinha. “Eu tenho certeza que essas provações que eu passei serviram para aumentar ainda mais a minha fé, porque eu poderia ter desistido. Houve momentos em que eu pensei em desistir do estudo, pensar que isso não era para mim. Eu cheguei a pensar que essa área não seria para mim com a reprovação, mas foi a fé que me manteve de pé”, reitera.

A rotina nesta Academia tem sido intensa, mas agora essa dificuldade – se é que podemos chamar assim – tem um gosto de vitória. Ela conquistou seu lugar no curso, vieram seis meses de preparação intensiva. “Eu senti uma emoção muito grande, caiu a ficha de que aquilo que eu tanto pedi em oração tava acontecendo, estava se realizando. A Aesp é minha primeira casa, porque a gente passa maior parte do tempo aqui, mas tem sido uma experiência muito boa”, comemora. Mas, para quem vivia unida com família, a dor maior não é cansaço físico ou mental, mas do coração com a distância da mãe e irmã. “O distanciamento da família está sendo acho que mais puxado, está sendo mais difícil que a rotina do curso”, opina.

Futuro

Quando Brígida fala no futuro, visualiza algo muito claro em sua mente: dedicar-se muito à carreira militar, estudar e dar o melhor para a familiar. “Eu me vejo trabalhando com o público, tendo esse contato direto com a população. O que sustenta a gente aqui é saber que foi um caminho muito difícil, eu vejo a Polícia Militar com uma grande família, principalmente coordenadores, monitores… Eles abraçaram a gente. Pretendo contribuir com a instituição, dar o meu melhor. Corre no sangue, é uma profissão muito nobre”, sorri.